Cerca de 1830, a Quinta de D. Benta foi descrita nestes termos:
Uma quinta murada sobre si, com umas grandes e nobres casas-torre, com sua capela unida às mesmas casas, com a frente para o lado do poente, tendo as mesmas casas sua entrada por um grande portal, com suas armas por cima do mesmo portal, e dentro tem sua eira, casas térreas e terras lavradias, com árvores de fruto e sem ele, e também terra de mato com pinheiros e carvalhos (…)
No seu opúsculo O Culto Mariano no Arciprestado de Vila do Conde e Póvoa de Varzim o Mons. Manuel Amorim por sua vez incluiu esta nota sobre a casa:
Quase em frente ao cruzeiro paroquial e ao edifício escolar, já nas proximidades do rio Este, encontra-se uma casa sobradada com o seu janelame corrido, idêntica a tantas outras casas agrícolas do Minho se não fosse a porta nobre encimada por um brasão de armas. Foram picadas as armas mas sabe-se que ostentavam no escudo as insígnias dos Carneiros da Grã Magriço, senhores do solar da Póvoa de Varzim. Em 1758 habitavam a casa Manuel Nunes Rodrigues do Louro Nobre, casado com D. Benta Carneiro da Grã, senhora que deixou fama na freguesia pelas suas benemerências. Deve-se a este casal a construção da capela em honra de Nossa Senhora da Lapa, conforme se lê na sepultura rasa lá existente.
A capela da Quinta de Balasar, dedicada a Nossa Senhora da Lapa, tem uma fachada de óptimo efeito visual. A porta é bem proporcionada, muito artística e de linhas modernas, certamente rococós (paga a pena compará-la com a da Igreja de Nossa Senhora da Lapa, de Vila do Conde). Trata-se decerto de obra planeada por pessoa culta, não improvisada por qualquer mestre-pedreiro.
Quando se entra, verifica-se que é também muito espaçosa. Nem lhe falta um coro. A sua dimensão devia corresponder à de algumas igrejas de então. Em começos do século XX, serviu mesmo de igreja paroquial de Balasar ao tempo em que decorriam as obras da construção da actual.
Esta capela tem origem próxima na pregação do Pe. Ângelo Sequeira, cónego da Sé de S. Paulo, Brasil, que, a partir de 1755, desenvolveu acção intensa no Porto e na Diocese de Braga. Foi autor de vários livros, entre eles, Botica Preciosa e Tesouro Precioso da Lapa, que se encontra em linha.
Esta capela tem origem próxima na pregação do Pe. Ângelo Sequeira, cónego da Sé de S. Paulo, Brasil, que, a partir de 1755, desenvolveu acção intensa no Porto e na Diocese de Braga. Foi autor de vários livros, entre eles, Botica Preciosa e Tesouro Precioso da Lapa, que se encontra em linha.
D. Benta
O P.e Leopoldino escreveu que D. Benta “mandou construir à sua custa uma ponte sobre o rio Este para passagem do povo e dos carros” (de bois e outros animais, naturalmente). E diz ainda que a ponte antiga “foi substituída pela actual, mandada construir em 1906 pela Câmara progressista da presidência do prestigioso povoense Dr. António Silveira, sendo vereador Manuel Joaquim de Almeida, abastado proprietário desta freguesia, onde faleceu com 54 anos, no dia 3 de Janeiro de 1918”.
A ponte de madeira construída por D. Benta, porém, não foi a primeira no lugar: ela mesma nasceu no lugar da Ponte. Talvez a anterior fosse só para peões.
D. Benta, que residiu em Vila do Conde ao menos em parte do seu tempo de viúva, faleceu em 14/4/1774, na Póvoa de Varzim, em casa do filho e foi sepultada na Matriz local, conforme o assento de óbito.
Nascida em 17/2/1727, finou-se com 47 anos. Como lhe nasceu a primeira filha em 1742, há-de ter casado com 14. Teve pelo menos duas irmãs, uma de nome Ana Maria, nascida em 31/10/1730, e outra de nome Margarida, nascida a 17/12/1732.
Algumas notas sobre a Casa da Quinta
Os antepassados próximos de D. Benta tinham um estatuto social acima do comum: faziam casamentos para longe, com gente da sua igualha; as senhoras eram tratadas por donas; nos baptizados, convidavam para padrinhos gente especialmente distinta; Manuel Carneiro da Grã foi ser juiz da Confraria do Santíssimo na Vila de Rates. Natural é que já possuíssem uma casa que se ajustasse a tal estatuto.
Por desconhecermos a história da construção dessa casa, o que se segue é sobretudo um alvitre.
Antes de Manuel Rodrigues construir a magnífica Capela da Senhora da Lapa, a casa terminava ali, no portal para entrada das carruagens - a norte ficava a entrada usual para as pessoas. Essa porta, um pouco humilde, está lá.
É difícil saber quem construiu o actual portal. Não faz grande sentido que Manuel Rodrigues construísse uma entrada brasonada, pois ele não era nobre. Mas também não se vê quem o pudesse fazer senão ele, que tinha largas posses.
Após a construção do portal é que se deve ter crescido a casa para sul, até à capela, prejudicando profundamente a estética dessa imponente entrada.
Uma comparação deste portal com outros de outras quintas, como a da Espinheira, em S. Simão da Junqueira, ou a da cerca do Mosteiro de S. Clara de Vila do Conde, pose ser esclarecedora: certamente o portão original não constituía parede de casa...
Como hoje não é possível obter uma fotografia que dê uma visão global da da frente poente da casa, coloca-se aqui uma fotografia antiga que no-la mostra, apesar das suas limitações.
Como hoje não é possível obter uma fotografia que dê uma visão global da da frente poente da casa, coloca-se aqui uma fotografia antiga que no-la mostra, apesar das suas limitações.
Imagens a partir de cima:
Portal principal, para carruagens;
Pormenor do arco do mesmo portal;
Fachada principal da Capela de Nossa Senhora da Lapa;
Porta da mesma capela;
Entrada secundária da casa, de serviço;Portal da Quinta da Espinheira, em S. Simão da Junqueira, Vila do Conde;
Portal da cerca do Mosteiro de S. Clara de Vila do Conde;
Vista global da casa, fachada poente.
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